terça-feira, 27 de julho de 2010

27.07.10

"Dizer que abri mão do amor seria mentira. Mas dizer que me entreguei a ele também não seria diferente.
Se eu o amo? Amo sim, e muito... mas hoje não posso alimentar nada que ameace a minha estabilidade emocional, não posso levar à frente nada que eu tenho a certeza que já é grande e pode crescer cada dia mais, e se tornar tão forte que será capaz de driblar a minha razão.
A distância não apaga, nem mesmo arranha a imensidão desse bem querer e a chuva de  sensações maravilhosas que vêm a tona, que arrepiam a pele, aceleram o coração, fazem a perna tremer, as mãos suarem, apenas por receber um recado. É mais que amor...
Entre nós nunca haverá apenas uma amizade pois sempre foi mais do que isso, fazendo minhas as palavras de Dominguinhos: "Sou mais que um amigo".
Só que nem todo amor do mundo tem o direito de fazer outras pessoas sofrerem. Por saber disso, em novembro de 2006, fiz uma troca mais que justa: doei o meu coração e peguei em troca um outro cérebro.
Quando eu digo "Eu Te Amo, é porque eu amo mesmo", com tudo de melhor que eu posso oferecer. Se você alimentar esse amor ele florecerá. Permitirei que isso aconteça desde que não magoe ninguém.
Abro mão da emoção de viver um grande amor em nome da regra básica de sempre, sob qualquer hipótese, me colocar no lugar do outro.

..."Só tem um jeito de eu te esquecer, é se eu perder a memória.
Mas assim mesmo alguém vai lembrar da nossa história..." - (Zé Hilton do Acordeom, Cabeção Do Forró)

(Desabafo da meia noite - Ana Gonçalves) 

segunda-feira, 19 de julho de 2010

19.07.10

"Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se trata de intuição, mas de simples infantilidade.
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. Há um perigo: se reflito demais, deixo de agir. E muitas vezes prova-se depois que eu deveria ter agido. Estou num impasse. Quero melhorar e não sei como. Sob o impacto de um impulso, já fiz bem a algumas pessoas. E, às vezes, ter sido impulsiva me machuca muito. E mais: Nem sempre os meus impulsos são de boa origem. Vêm, por exemplo, da cólera. Essa cólera às vezes deveria ser desprezada; outras, como me disse uma amiga a meu respeito, são: cólera sagrada. Às vezes minha bondade é fraqueza, às vezes ela é benéfica a alguém ou a mim mesma.
Às vezes restringir o impulso me anula e me deprime, às vezes restringi-lo dá-me uma sensação de força interna. Que farei então? Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.
(Clarice Lispector)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

15.07.10

É revoltante perceber que além de pagar nossos impostos regularmente e ter despesa fixa com plano de saúde (escolhendo na prestadora o melhor de todos), dependemos ainda de conhecer alguém influente dentro dos hospitais para que sejamos atendidos em um caso de emergência.

Prefiro não citar o nome do hospital, até mesmo porque acredito que seja um problema generalizado. Ontem tive um probleminha e fui parar na emergência de um hospital conceituado de Salvador. Chegando lá, o recepcionista disse que não podia nem fazer minha ficha pois a emergência estava lotada, não tinha vaga para mais ninguém. "Engraçado" que a vaga surgiu milagrosamente quando uma tia minha que trabalha lá interfonou e disse que era para fazer minha ficha...

A minha vontade naquele exato momento foi de ir embora, e teria ido se não estivesse me sentindo tão mal.

Ê Brasil sem vergonha. 

(Ana Gonçalves - 14.07.2010)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

08.07.10



"Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás. Tocou a campainha e ele, ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para atender.

Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares. Quero que você me escute, simplesmente.
Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes.

Primeiro tirou a máscara: "Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto".

Então ela desfez-se da arrogância: "Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história."

Era o pudor sendo desabotoado: "Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou".

Retirava o medo: "Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei".

Por fim, a última peça caía, deixando-a nua

"Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui".

E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.

(Strip-Tease - Martha Medeiros)