quinta-feira, 8 de outubro de 2009

08.10.09

Prenez soin de Vous
Já faz um tempo recebi um e-mail de uma grande amiga com um link de um comentário que a escritora Tati Bernardi fizera sobre uma exposição da artista plástica francesa Sophie Calle, que ao levar um fora via e-mail, não quis pensar no acontecido sozinha e transformou a sua história em arte. Sophie pediu a 107 mulheres que interpretassem o e-mail e transformou as diversas opniões em uma mostra. A obra, composta de textos, vídeos e fotos, representou a França na Bienal de Veneza, fez sucesso em Nova York e, agora chegou ao Museu de arte Moderna da Bahia. Confira: http://www.mam.ba.gov.br/expos2009/sophie-calle/.
Quando soube dessa exposição ontem fiquei com muita vontade de ir assisti-la e é o que farei na próxima semana.
Eis a transcrição da carta de Grégoire Bouillier a Sophie Calle:
"Há um tempo venho querendo lhe escrever e responder ao seu último e-mail. Ao mesmo tempo, me pareceria melhor conversar com você e dizer o que tenho a dizer de viva voz. Mas pelo menos será por escrito.
Como você pôde ver, não tenho estado bem ultimamente. É como se não me reconhecesse na minha própria existência. Uma espécie de angústia terrível, contra a qual não posso fazer grande coisa, senão seguir adiante para tentar superá-la, como sempre fiz. Quando nos conhecemos, você impôs uma condição: não ser a "quarta". Eu mantive o meu compromisso: há meses deixei de ver as "outras", não achando obviamente um meio de vê-las, sem fazer de você uma delas.
Achei que isso bastasse; achei que amar você e o seu amor seriam suficientes para que a angústia que me faz sempre querer buscar outros horizontes e me impede de ser tranquilo e, sem dúvida, de ser simplesmente feliz e "generoso", se aquietasse com o seu contato e na certeza de que o amor que você tem por mim foi o mais benéfico para mim, o mais benéfico que jamais tive, você sabe disso. Achei que a escrita seria um remédio, que meu "desassossego" se dissolveria nela para encontrar você. Mas não. Estou pior ainda; não tenho condições sequer de lhe explicar o estado em que me encontro. Então, esta semana, comecei a procurar as "outras". E sei bem o que isso significa para mim e em que tipo de ciclo estou entrando.
Jamais menti para você e não é agora que vou começar.
Houve uma outra regra que você impôs no início da nossa história: no dia em que deixássemos de ser amantes, seria inconcebível para você me ver novamente. Você sabe que essa imposição me parece desastrosa, injusta (já que você ainda vê B., R.,...) é compreensível (obviamente...); com isso, jamais poderia me tornar seu amigo.
Mas hoje, você pode avaliar a importância da minha decisão, uma vez que estou disposto a me curvar diante da sua vontade, pois deixar de ver você e de falar com você, de apreender o seu olhar sobre as coisas e os seres e a doçura com a qual você me trata são coisas das quais sentirei uma saudade infinita.
Aconteça o que acontecer, saiba que nunca deixarei de amar você da maneira que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e, tenho certeza, jamais morrerá. Mas hoje, seria a pior das farsas manter uma situação que você sabe tão bem quanto eu ter se tornado irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro. E é justamente esse amor que me obriga a ser honesto com você mais uma vez, como última prova do que houve entre nós e que permanecerá único.
Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente.
Cuide de você"
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Talvez se eu tivesse cursando a faculdade de psicologia, estivesse hoje apta a traçar um paralelo entre a personalidade de Grégoire Bouillier, autor da carta e de uma pessoa que escreveu um e-mail há um tempo atrás com o mesmo intuito. Ouso transcrever uma parte dele:
...
"Não sei se você vai me entender... não queria que mudasse a relação que temos de ser humano para ser humano. O respeito e o carinho que temos um com o outro. Não queria que as coisas se confundissem. Infelizmente eu tive essa história (de novela) com a M. durante 4 anos. E a coisa é muito grande. Mesmo...
Tem um lado meu muito triste por já ter comprado a passagem, por já ter te prometido e confirmado. Um lado meu envergonhado de estar te falando tudo isso diretamente para você, e um lado meu feliz de achar que tenho liberdade e intimidade suficiente para te contar qualquer tipo de coisa que diz respeito a minha vida. E tem o lado meu que diz que é isso que tenho que fazer e nisso que tenho que acreditar nesse momento.
Gostaria muito de ter essa conversa pessoalmente para te olhar nos olhos e te explicar qualquer coisa que não tenha ficado clara. Sei lá... é uma situação muito delicada....
Resumindo, é isso... não posso ir para S. Até porque nao vou estar 100% ai e isso seria mais sacanagem com você do que o fato de eu não ir...
Não sei mais o que escrever acho que isso é tudo... não sei onde enfiar a cara... não sei o que te dizer... Enfim... Ai meu jesus amado
Nem sei se espero uma resposta ou se você vai ter vontade de não falar mais comigo... não sei se você vai ficar com raiva ou chateada. Então não sei o que fazer... Acho que mesmo se for pra falar coisas ruins me escreva... mesmo se for pra me xingar me dê notícias....
Você foi uma preciosidade que eu achei no meu caminho. Coisa rara. Muito rara... Uma pessoa importante que não vou esquecer jamais...
Um beijo grande. Sem palavras para me desculpar por ter te metido nessa confusão que tem a ver com minha vida. Desculpas mesmo...
Espero alguma coisa de você... nem que seja duas palavras...
Beijos angustiados
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A terapia talvez me ajude a entender o que realmente se passa pela cabeça das pessoas quando elas negligenciam nas relações interpessoais, quando na prática a teoria é outra.
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